A Escola Pública é uma espécie ameaçada. A redução de turmas nos Cursos Profissionais, a redução de turmas dos Cursos Nocturnos (EFAs, Recorrente), os mega-agrupamentos e o fecho dos CNOs implicaram o desaparecimento automático de milhares de horas para os docentes. A estes factores acresce ainda a redução das horas atribuídas às Direcções de turma, o aumento do número de alunos por turma e a diminuição da carga horária em algumas disciplinas. Como exemplo: a disciplina de opção de 12º ano passa de 3 para 2 blocos lectivos por semana mas mantém o mesmo programa. Como? Se calhar da mesma forma como, ao longo dos anos, se tem tentado meter o Rossio na Rua da Betesga.
Foram muitos os que andaram, ansiosos, na primeira semana de Julho, a fazerem contas aos pinguinhos de horas que lhes poderiam conseguir um horário na escola onde leccionam há 10, 20 ou 30 anos. Foram, provavelmente, mais ainda os que pensaram que o problema lhes passaria ao lado e que foram brutalmente surpreendidos por um SMS, um telefonema ou uma carta da Escola a avisar que, afinal, teriam de concorrer para longe. Em alguns casos, como nos Concelhos da Área de Lisboa, para muito longe. Fala-se em mobilidade e em hipermobilidade: um docente com 30 anos de carreira e a leccionar numa escola do Centro de Lisboa até pode concorrer apenas para a escola da rua ao lado mas, se não tiver lugar nessa escola, arrisca-se a ficar colocado em Alcochete, na Moita, em Vila Franca de Xira e por aí fora. Não parece muito longe quando se pensa nas escolas mais centrais mas há localidades e lugarejos com poucos acessos e nem todos têm carta e carro. Acima de tudo, nem todos esperavam que esta possibilidade se tornasse real.
A grande maioria destes professores voltará para as suas escolas em Setembro por duas razões: primeiro, porque não estando ainda concluídas as matrículas, as escolas não têm ainda os dados suficientes para saberem quantos professores precisam e, por isso, foram enviados, certamente, muitos mais professores para concurso do que os necessários.
Em segundo lugar, muitos dos professores não terão lugar noutras escolas e ficarão na escola de origem, com horário zero, coadjuvando colegas, dando apoios e a ser pau para toda a obra, substituindo os outros colegas que, de rastos e com turmas de 30 alunos no mínimo, deixam de ter condições para fazer um trabalho decente. Pior do que isso, ficarão numa Bolsa de recrutamento que os pode ir enviando para substituições aqui e ali, consoante as necessidades do sistema. Algo que já acontecia aos professores contratados e a alguns professores do Quadro nos últimos anos mas que agora se agrava pela dimensão que irá ter a nível nacional.
Os contratados, por seu turno, irão, mais do que nunca, engrossar as fileiras dos que recorrem ao subsídio de desemprego.
Quem escapou este ano pode esperar um futuro incerto. Quem foi apanhado já na rede terá tomado consciência de que o sistema se está a preparar para reduzir a Escola Pública a um armazém onde meia dúzia de infelizes se encarregam de vigiar e manter ocupados centenas de jovens que ainda não atingiram a idade laboral.
A Escola Pública assistiu a uma hecatombe de horários zero na passada 6ª-feira. Provavelmente só quando começarem a aumentar as baixas docentes e os problemas disciplinares lá para Outubro é que o restante país terá consciência do que aconteceu.
Não foi o azar de uma 6ª-feira, 13. O azar acontece; isto foi tudo planeado. Com regra, esquadro, calculadora e os euros em mente.
Sem comentários:
Enviar um comentário