segunda-feira, 24 de outubro de 2011

As duas culturas

Enquanto por aqui se fala na diminuição da carga horária de disciplinas como História e Geografia em nome da redução da despesa, pela Florida fala-se no corte de cursos como Antropologia, porque as áreas que interessam são as STEM - "science", "technology", "engineering" e  "math". Ou seja, o que é técnico dá dinheiro e tem futuro, o que é humano e social é desnecessário.
Continua, assim, o ataque sem dó nem piedade às Humanidades, essas áreas que ajudam os indivíduos a reflectir e a crescer cultural, intelectual e historicamente. Provavelmente, para alguns, o ideal seria uma massa acrítica a desenvolver gadgets para vender, a criar medicamentos ao sabor da vontade de lucro das farmacêuticas (se calhar mais interessadas em produtos para a caspa do que para a malária), a construir pontes e auto-estradas para as indústrias do betão ou a descobrir uma nova geração de armas nucleares. Atente-se no que diz Rick Scott, governador desse estado florido:
“We don’t need a lot more anthropologists in the state. … I want to spend our dollars giving people science, technology, engineering, and math degrees. That’s what our kids need to focus all their time and attention on, those types of degrees, so when they get out of school, they can get a job.” Fonte
Mas esta divisão é insensata: as duas culturas, nas palavras de C. P. Snow, complementam-se. O mundo precisa de Einstein e de Oppenheimer (mas teria havido a calamidade de Hiroshima sem a contribuição involuntária de Oppenheimer?) mas também de um Claude Lévi-Strauss ou de um Mircea Eliade . O mundo precisa de Dennis Ritchie mas também de uma Jane Austen.
Ou ficaremos todos muito mais pobres.
Rafael, "A Escola de Atenas"

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