terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A outra Grécia

Faleceu há dias Jacqueline de Romilly, para quem a Cultura Grega foi uma forma de vida. 
Como homenagem a uma historiadora e helenista que muito admiro, deixo um poema de um grego (Kaváfis) sobre os descendentes de alguém que, não sendo grego, levou essa Cultura até onde lhe foi possível (Alexandre Magno).

Konstantinos Kaváfis, "Os Reis de Alexandria" (1912)

Reuniram-se os alexandrinos
para verem os filhos de Cleópatra:
Cesarião e seus irmãos mais jovens,
Alexandre e Ptolomeu, que
por vez primeira ao Ginásio levados
reis seriam proclamados,
em parada militar brilhante.

Alexandre foi proclamado rei da Armênia, de Média e de Patia.
Ptolomeu, rei da Cecília, Síria e Fenícia.
Cesarião de pé, na frente deles,
vestido com seda cor-de-rosa,
um ramalhete de jacintos nos braços,
na cintura uma dupla fila de ametistas e safiras,
as sandálias atadas com brancas fitas,
com amarelas pétalas bordadas.
A ele coube o maior dos títulos:
proclamaram-nos Rei dos Reis.

Os Alexandrinos certamente compreenderam
que tudo aquilo eram palavras de faz-de-conta.

O dia estava quente, porém, e poético,
com céu de pálido azul.
O Ginásio de Alexandria era uma obra-prima.
As vestes dos cortesãos, esplêndidas,
Cesarião era todo charme e beleza
(filho de Cleópatra, sangue dos Lágidas).
Os alexandrinos, em multidões, ao festival acorreram
e entusiasmados saudavam em grego,
em egípcio, em hebraico alguns,
encantados com a beleza do espectáculo,
embora soubessem, naturalmente,
o que tudo aquilo valia,
eram aqueles reinos palavras vazias.

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